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Governo Lula opta pelo pragmatismo nas eleições para comandar a Câmara e o Senado



Logo após serem empossados neste 1º de fevereiro de 2023, congressistas eleitos ou reeleitos em outubro de 2022 vão eleger os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Os candidatos favoritos, como se sabe, são os atuais ocupantes desses cargos: Arthur Lira (PP/AL) e Rodrigo Pacheco (PSD/MG), respectivamente. Ambos contando inclusive com o apoio do Executivo.


Como resumiu o deputado Zeca Dirceu, que assume hoje a liderança do partido na Casa, "o PT errou muito ao longo dos últimos tempos, porque, com uma ou outra exceção, na maior parte das vezes, quis fazer luta política e abriu mão de ocupar os espaços que, proporcionalmente, cabem ao PT.

Essa foi a melhor estratégia para o governo Lula?


Tudo indica que sim. É claro que o cenário ideal para qualquer governo seria colocar na presidência das duas Casas Legislativas dois integrantes de seu próprio partido ou um aliado próximo e confiável. Mas isso está longe de ser factível na atual conjuntura, o que confere ao Partido dos Trabalhadores (PT) duas alternativas principais.


Na primeira delas, o partido insistiria em candidaturas próprias ou de aliados próximos para os dois cargos e sairia da disputa derrotado, seja pelos atuais ocupantes dos cargos (Lira e Pacheco), o que seria ruim para o governo, seja para um terceiro candidato (provavelmente um bolsonarista como Rogério Marinho), o que seria muito pior.


Na segunda alternativa, que parece ter sido a escolhida, o partido à frente do Executivo abre mão de candidaturas próprias às presidências das duas Casas e apoia, de maneira mais ou menos explícita, a recondução dos atuais ocupantes desses cargos, que possuem mais chances de saírem vencedores dessas disputas.


Alguém poderia perguntar se, ao optar pela segunda alternativa, o governo não estaria simplesmente desistindo da disputa e da oportunidade de, por exemplo, tirar Arthur Lira, que não é propriamente um aliado confiável, da presidência da Câmara.


O problema com esse tipo de discurso é que, embora ele seja muito útil para mobilizar apoiadores (ou mantê-los mobilizados), é desastroso para quem pretende governar. Em outros termos, trata-se de um instrumento útil para disputar o poder, mas não para exercê-lo. Considerando, é claro, que o governo em questão tenha uma agenda a ser levada adiante.


Consideremos o cenário ruim: o governo insiste em uma candidatura própria, sabidamente inviável, e assiste a Lira e Pacheco serem reconduzidos aos seus respectivos cargos. Uma coisa é isso ocorrer com o apoio do governo, que terá nos presidentes da Câmara e do Senado dois aliados circunstanciais, ainda que não sejam companheiros de legenda. Bem outra seria se essas reeleições ocorressem derrotando candidatos do governo, que passaria, então, a ter em Lira e Pacheco dois adversários.


Agora o cenário desastroso: o governo insiste em uma candidatura própria, sabidamente inviável, divide os votos de deputados e senadores, e possibilita a vitória de um terceiro candidato, provavelmente um bolsonarista convicto. Os problemas aqui não se encerrariam nas enormes dificuldades para se levar adiante a agenda que venceu as eleições em outubro, mas qualquer agenda. Isso porque além de não conseguir aprovar as mudanças necessárias no Congresso, o governo precisaria adotar um postura defensiva (para usar um eufemismo) contra as investidas mais ou menos delirantes do bolsonarismo: que apoia, por exemplo, a mineração em reservas indígenas (PL 191/2020), como a dos Yanomamis.


Em 2015, o PT apostou no discurso palanqueiro e lançou uma candidatura “puro sangue” à presidência da Câmara dos Deputados: Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi derrotado por Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e o resto é história. Desta vez, o partido parece ter optado (acertadamente) pelo pragmatismo.


Como resumiu o deputado Zeca Dirceu, que assume hoje a liderança do partido na Casa, "o PT errou muito ao longo dos últimos tempos, porque, com uma ou outra exceção, na maior parte das vezes, quis fazer luta política e abriu mão de ocupar os espaços que, proporcionalmente, cabem ao PT. Agora, nós estamos fazendo diferente".


Um primeiro passo nessa direção foi não ter lançado candidaturas próprias às presidências da Câmara e do Senado. É claro que ninguém em sã consciência imagina que isso vá garantir uma relação amistosa com o Legislativo ao longo do governo. Não ter adversários nesses cargos, no entanto, parece um bom começo.


Wellington Nunes - PhD em Ciência Política e Consultor chefe da ARW


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